quarta-feira, 2 de agosto de 2017

de de

The Handmaid's Tale (O Conto da Aia), Margaret Atwood

"Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa para que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda sua vida." - Simone de Beauvoir


Esse é uma série da plataforma Hulu (que ainda não veio para o Brasil) de 2017, que já fez grande sucesso e já teve até indicações à premiações. 
Baseada no livro de mesmo nome, publicado em 1985, da autora Margaret Atwood e é considerado por muitos uma das mais importantes distopias do século passado.
                                    Publicado pela editora Rocco - Capa nova                                      Capa mais antiga

A série/livro fala de um futuro(?) distópico, onde há 7 anos nenhuma criança (ou pouquíssimas) nasciam e a infertilidade está devastando o mundo.

Um grupo totalmente fundamentalista acha que isso é uma punição ou praga de Deus, por causa dos pecados que vivemos/fazemos, principalmente por causa das mulheres que só pensaram em estudar e trabalhar e se esqueceram de "propósito natural" que é ser mãe.
Fazendo vários ataques em lugares diferentes dos EUA, eles conseguem derrubar a constituição e tomam o poder e logo de início revogam os direitos das mulheres, que perdem seus empregos e não tem mais direito a uma conta bancária ou dinheiro próprio.

Com o tempo os EUA se torna a "República de Gileade", que segue leis baseadas na bíblia e tem como regentes "Comandantes" totalmente teocentristas, onde somente eles prosperam e são livres (até para trair a fé e a doutrina que pregam). Nessa sociedade eles raptaram todas as mulheres férteis e as fizeram ser as Aias, que só servem para a reprodução, as não férteis viram as "Marthas" que são as empregadas, as Tias que são como as "treinadoras" das aias. Também tem as Esposas dos comandantes que em sua maioria são inférteis.
Então conhecemos Offred (que antes era June - na série - pois nem o direito a nome as aias tem, o novo consiste em ter o prefixo "of" (do) + o nome do comandante, para mostrar que elas são mesmo só propriedade). Ela foi separada de sua filha e seu marido e depois "treinada" com uma lavagem cerebral e vai para casa de um comandante, onde uma vez por mês (no seu período fértil) ela é estuprada em algo chamado "Cerimônia" (esse nome para ficar "mais bíblico" e ter uma aceitação maior), rito esse em que até a esposa está presente, para tentar dar um filho para essa família - caso a aia engravide ela fica na casa até desmamar, depois deixa o bebê com a esposa e vai embora para a próxima casa para acontecer tudo de novo. É nojento e absurdo! E daí vamos acompanhar o sofrimento e a luta dela e das outras aias (que ao pouco vamos vendo).
                                                                                           "A Cerimônia"

Nem preciso dizer que nessa mesma sociedade há intolerância com homossexuais, que são enforcados no muro da cidade, junto com outros que tentam lutar ou pensam diferente.

É uma série toda escrita por mulheres e 4 dos 5 diretores são mulheres, inclusive a autora do livro também participa da produção. A atuação da Elizabeth Moss (Ofrred/June) é impecável, ela consegue demonstrar o horror da sociedade com o olhar e passar todos os sentimentos com perfeição.
Também estão na série Alexis Bledel (OfGlen) que fez a eterna Rori Gilmore, Samira Wiley (Moira) que também fez OTNB e Yvone Stezechowiski (Selena) que fez a esposa do Comandante Fred, onde vemos que ambos os lados sofrem com essa sociedade. Entre outros que estão arrasando na atuação.
A fotografia é maravilhosa, as cores são lavadas pra dar esse ar de tristeza, a única cor mais viva e forte que predomina é o vermelho do "uniforme" das aias, justamente as únicas que podem trazer/dar vida. O foco da câmera é muito bem feito, quando as aias estão todas juntas eles mostram elas de cima dando uma imagem ampla e quando tem um close ao redor fica desfocado, o que é bem legal já que é praticamente o jeito que elas veem o mundo por causa da touca que elas tem que usar.
A trilha sonora não erra e não perde uma! Sempre bem colocada, com músicas atuais e mais antigas também. Tudo muito poético! (aliás "Felling Good" me arrepiou muito).
E mesmo sendo uma distopia/ ficção científica social, podemos ver o quão real e possível pode ser. Por exemplo, no Irã as mulheres são obrigadas a usarem o hijab, sob pena muito grave caso não usem, em alguns países as mulheres tem seus clítoris tirado e em muitos países as mulheres não podem nem trabalhar. Mas não precisamos ir "tão longe" para ter alguns exemplos: quantas mulheres você conhece que o marido/namorado acha que ela é propriedade dele?; no Brasil a cada 11 minutos uma mulher é violentada e a cada 28 horas um homossexual morre de forma violenta; quantas vezes você não ouve sobre mulheres que foram estupradas e a primeira pergunta é o que ela estava vestindo e ela foi a culpada? Eu mesma já ouvi de uma coordenadora de escola que "a culpa de uma geração tão "estragada" assim era das mulheres que lutaram tanto por direitos que esqueceram de ser mãe." 

Outro ponto abordado e do uso da religião (seja ela qual for) pra fazer algo mal, como também já acontece muito.
Essa é um realidade mais próxima do que a gente imagina (tirando as "hollywoodianices").

O final é desesperador e bem fiel ao livro (a série toda é bem fiel, mas um pouco mais aprofundada em assuntos externos). A segunda temporada já foi confirmada!!!
Melhor série/livro do ano, deem uma chance e me digam o que acharam.

Curiosidades: em alguns protestos contra Trump algumas mulheres foram vestidas de aia!
                                                                                                    Protesto contra Trump

Espero que tenham gostado dessa resenha, qualquer dúvida ou sugestão pode deixar nos comentários :)

Beijos
Drê <3

0 comentários:

Postar um comentário